XX
INIC / XVI EPG
/ VI INID - UNIVAP 2016
Isabela
de Sousa Nogueira1,
Me. Lindsay Caroline de Brito Ribeiron
Resumo
- O
corpo contemporâneo é objeto de fragmentação artística e, ao
mesmo tempo, tal fragmentação é o que cria sua identidade diante
do mundo. Segundo Santanna (1996), conhecer seu próprio corpo na
contemporaneidade é qualidade riquíssima, já que ser é
considerado menor que ter. Dessa forma, para que o corpo seja parte
importante dessa sociedade, é necessário que se tenha total
controle sobre tal e esse controle é saber manipulá-lo para que
passe a imagem exata do que quer que os outros vejam. Ainda assim,
para o controle desse corpo e do encontro dessa identidade, segundo
Pires (2006), é necessária a aquisição de adornos que o
diferenciem e ao mesmo tempo, o faça pertencer a um certo grupo
social. Na adolescência, o trabalho de corpo em sala de aula faz-se
necessário devido ao momento de descobertas em que os estudantes se
encontram e as aulas de arte podem trabalhar adequadamente esse corpo
contemporâneo habitado pelos jovens, colaborando para a descoberta
de suas identidades e as maneiras de lidar com as situações atuais
da sociedade.
Palavras-chave:
arte,
educação, identidade, contemporaneidade, arte educação.
Área
do Conhecimento: Educação
Introdução
Na
contemporaneidade, a fragmentação do corpo, vista por Calabrese
(1998) como “[...] perda da integridade, da globalidade, da
sistematicidade ordenada em troca de uma instabilidade, da
polidimensionalidade, da mutabilidade [...]” (CALABRESE apud
RIBEIRO,
2009), está cada dia mais desvelado e manifesto na necessidade de um
corpo que fuja dos padrões tradicionais impostos pela sociedade numa
cultura ocidental secular. É o que faz com que a arte possa criar
novas maneiras de enxergá-lo, desestetizando-o e resignificando-o
dentro dessa nova sociedade, sendo ele, símbolo de identidade,
principalmente na fase da adolescência.
Só
há possibilidade da fragmentação desse corpo se pensarmos no seu
oposto, se houver conhecimento do mesmo por completo. Sendo assim,
desde o mutilado, colocado, opcional, até atitudes não escolhidas
pelo homem são elementos que compõe a identidade do ser, sua
diferenciação e exclusividade.
A
etimologia da palavra identidade está relacionada à circunstância
do indivíduo ser aquele que diz ser ou ser aquele que outrem presume
que ele seja.
Tratando-se do sujeito pós-moderno, segundo Hall (1992), a ideia de
uma identidade unificada e segura é fantasiosa, já que o sujeito
compõe-se de diversas identidades para diversos momentos e as mesmas
nem sempre são coerentes entre si, principalmente tratando-se da
fase da adolescência, tratada a seguir.
O
adolescente e a sala de aula
Segundo
Arminda Aberastury (1981), o adolescente passa por três lutos: do
corpo infantil perdido, sentindo-se totalmente impotente diante dessa
mutação; pela identidade infantil, agora ele precisa aceitar as
responsabilidades que lhe são dadas; pelos pais da infância que
agora têm de aceitar seus filhos como adultos. Diante de toda a
instabilidade causada por esses lutos, ainda há de se considerar a
frustração de estar em um mundo que não aceita seus imprevistos.
Perante tais motivos, o adolescente passa por um chamado “curto
circuito” no pensamento que dá espaço à ação física. Em meio
a tantos problemas e dor, a sociedade aproveita de sua
vulnerabilidade para projetar suas falhas, marginalizando-o
psicológicamente, culpando-os por toda a violência adulta e essa
mesma violência o reprime, distancia e nega-o a possibilidade de uma
vida adulta criativa.
É
nesse período de contradições e dores, segundo Arminda (1981) ,
que o adolescente fica entre a dependência e independência e essas
mudanças levam-no a busca de uma nova identidade, pois não quer ser
como determinado adulto, mas escolhe outro como ideal e vai
modificando-se lentamente até que a maturidade biológica acompanhe
a afetiva e intelectual, que só chega quando mune-se de ideologias,
confronta teorias, defende um ideal, adquire teorias estéticas, tem
respostas às dificuldades da vida e confronta e soluciona as ideias
sobre a existência ou inexistência de Deus.
Em
sala de aula, o adolescente é condicionado a permanecer sentado,
dando lugar ao pensamento e podando sua ação física espontânea.
Segundo Therese Bertherat (1985), desde o inicio da vida, adquirimos
um repertório mínimo de gestos e não refletimos sobre esses
movimentos, sendo assim, não são apenas gestos reduzidos, mas
também nossa capacidade de criar. Ao pensarmos na intelectualização
do gesto, em um mundo que não o permite agir, a experimentação no
ambiente escolar pode mediar o conhecimento e aceitação desse novo
corpo que lhe é imposto biologicamente.
Trabalhando
de maneira positiva no ambiente escolar, pode-se iniciar o
adolescente sobre a morada em seu próprio corpo e a aceitação de
suas ações espontâneas. De maneira poética, colocando o corpo
como suporte para a arte contemporânea. Para Therese (1976), se
descobríssemos como nos orientarmos no espaço e a organização de
nossos movimentos, seria possível aumentar nossa capacidade
intelectual.
Como
o pintor prepara a tela e o escultor, o barro, devemos preparar o
corpo antes de usá-lo, antes de esperar dele “resultados
satisfatórios”. É o estado do corpo que, a priori, determina a
riqueza das experiências vividas. O corpo lúcido toma iniciativas,
não se contenta mais com receber, aguentar, “engolir”. Ao tomar
consciência do corpo, damos-lhe a ocasião de comandar a vida.
BERTHERAT, Therese (1976 p.107)
Sendo
assim, preparando o corpo do adolescente a partir das experiências
artísticas e corporais vividas por ele por meio do conhecimento das
artes do corpo, a tomada de consciência corporal pode levar alguns
ao comando de sua vida com responsabilidade, iniciando o ciclo de
transformação cada vez que o corpo percebe o mundo,
desestabilizando-o, levando ao pensamento e assim, estando pronto
para desestabilizar outros corpos e assim sucessivamente (Greiner,
2005, p138).
“Creio
que o corpo pode também ser entendido como uma casa. E penso também
que como a casa ele deve ser polido de tempos em tempos” (ABRAMOVIC
apud
GUARDA)
Assim,
seu corpo será sua casa, onde é seguro e conhecido e ao mesmo
tempo, o lugar onde pode intelectualizar e agir a partir de seus
movimentos mais simples e, inclusive do que e como se veste,
experimentando concomitantemente moda e arte. A partir do
conhecimento e aceitação de seu corpo por meio de experimentações
artísticas, o adolescente pode conciliar a realidade e seu refúgio
fantasioso de criatividade equilibradamente. Transformar esse corpo
numa casa acolhedora, com responsabilidades e estabelecendo novos
contatos com outros corpos acolhedores que sofrem dos mesmos lutos e
desafios.
“Eu
pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto
conheço melhor.” (KAHLO apud
FRANCISCO, 2009)
A
partir da citação da artista Frida Kahlo, podemos pensar de duas
diferentes maneiras: usar da arte para se conhecer, experimentando-a
e usar da arte para expressar o que já se conhece intelectualmente.
Por tal motivo, o adolescente deve trabalhar nas aulas de artes o que
mais conhece, ele mesmo. Dessa forma, pode conhecer-se melhor, criar
relações de sua vida com o trabalho de algum artista pelo qual
sente-se curioso, colocar sua criatividade, dores e vontades nas
pesquisas e na produção artística. Para Fayga Ostrower (1977),
criar relações é construir uma teia de saberes, que passa pelo
mundo, por algum evento em particular e por nós mesmos, e são
orientados pelos desejos, expectativas, medos e sentimentos mais
íntimos e essas relações criadas nos levam à constante busca de
significados, amadurecendo ideias, desenvolvendo a poética pessoal e
ao mundo imaginário e experimental.
Considerações
Para
John Dewey (1938), é tarefa do educador proporcionar situações
para a experiência do estudante que provoquem mobilização de seus
esforços e apresentem atividades agradáveis, estimulando-o e
preparando-o para experiências futuras. A subjetividade poética do
corpo é a realização de uma ação concreta e dinâmica que
reposiciona o homem cada vez que ele cria algo, visto que é uma
necessidade humana, criando um percurso composto pelo acaso e pelo
pensamento racional (SALLES, 2009), introduzindo novas ideias,
desenvolvendo sempre o olhar estético e crítico e, segundo Ostrower
(1977), crescendo enquanto ser humano.
Por
tais motivos, é importante que o adolescente esteja livre para
utilizar de sua vivência pessoal e escolar para o desenvolvimento do
estudo do corpo, acrescentando sempre sua poética pessoal,
tornando-se assim, protagonista e morador de seu próprio corpo.
Referências
BERTHERAT,
Therese.
O Corpo tem suas razões.
Editora Martins Fontes, São Paulo, 1985, 9ª ed.
BIRMAN,
Joel. Mal-estar
na atualidade: a psicanálise e as novas formas de subjetivação.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CALABRESE,
O. A
Idade Neobarroca.
São Paulo: Martins Fontes. 1988.
COHEN,
Renato. Performance
como Linguagem. São
Paulo, Perspectiva, 1989.
DEWEY,
John. Experiência
e Educação. Tradução
Renata Gaspar. 2. Ed. Petrópolis: Vozes, 2011.
COMPAGNON,
Antonie. Os
cinco paradoxos da modernidade.
Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.
HALL,
Stuart. A
IDENTIDADE CULTURAL NA PÓS-MODERNIDADE.
DP&A
Editora, 1ª edição em 1992, Rio de Janeiro, 11ª edição em 2006,
102 páginas, tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro.
OSTROWER,
Fayga. Editora Vozes. RJ. 187p. 1977.
SANT’ANNA,
Denise. Corpos
de passagem.
São Paulo: Estação Liberdade, 2001.